quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Adoçantes artificiais não calóricos podem elevar a glicemia?

        Estudo publicado na revista Nature, realizado no Instituto Weizmann, em Israel, causou polêmica ao concluir que os adoçantes artificiais não calóricos mais utilizados atualmente (sacarina, sucralose e aspartame) podem ocasionar alterações funcionais na microbiota intestinal, estimulando a intolerância à glicose.
       A pesquisa incluiu testes com ratos e humanos.

Experimento em ratos: 
       O estudo incluiu inicialmente ratos eutróficos (com peso corporal adequado) que receberam diferentes soluções controle (10% de sacarose) ou contendo sacarina, sucralose ou aspartame (5 a 95%). Todos receberam dieta controlada (idêntica em energia e macronutrientes) e após 11 semanas, os ratos que consumiram os adoçantes demonstraram maior intolerância à glicose comparados àqueles que tinham bebido água com açúcar. Segundo os autores, a sacarina foi o adoçante mais deletério.
       Avaliando como a sacarina influenciava as alterações na flora intestinal, os pesquisadores implantaram as bactérias intestinais de ratos que tinham consumido a sacarina em ratos que não tinham ingerido qualquer adoçante, percebendo os mesmos efeitos prejudiciais.

Experimento em humanos: 
       Analisando a influência dos adoçantes artificiais não calóricos em 381 voluntários humanos, os autores encontraram associação positiva entre o consumo habitual destes adoçantes e o perímetro da cintura, hemoglobina glicada, glicemia de jejum e a alanina aminotransferase. A composição da flora intestinal de 172 voluntários, selecionados aleatoriamente, também foi avaliada e associada positivamente à presença de bactérias patogênicas com a ingestão dos adoçantes.
       Por último, sete voluntários saudáveis (sem diagnóstico de doenças) que relataram não ingerir habitualmente adoçantes artificiais, receberam durante uma semana, três doses de 120 mg de sacarina/dia, o que corresponde  ao limite máximo da ingestão diária aceitável recomendada pela Food and Drug Administration (4g/kg de peso corporal/dia). Após sete dias, quadro dos sete voluntários demonstraram maiores concentrações de glicemia comparadas às glicemias anteriormente o experimento.
Observação: as glicemias foram avaliadas de maneira contínua por sensor subcutâneo que mede a glicemia no líquido intersticial que circunda as células da pele.

Conclusão dos autores do estudo: 
          Apesar dos adoçantes artificiais terem sido introduzidos na dieta com o objetivo de reduzir a ingestão de calorias (nos casos de indivíduos com objetivo de perder peso corporal) e carboidratos (para pacientes com diabetes mellitus), o aumento da ingestão de adoçantes artificiais não calóricos coincide com a epidemia de obesidade e diabetes.
          De acordo com os resultados do estudo, há necessidade de desenvolver novas estratégias nutricionais que avaliem a diferença individual, porque estas interferem na composição e função da microbiota intestinal.

Opinião de Débora Lopes Souto: 
        A metodologia realizada com os ratos está descrita de forma adequada e abrange todos os aspectos que estudos experimentais devem considerar para que não ocorram vieses nos resultados obtidos.
        Contudo, a metodologia com humanos é escassa, não descrevendo se os voluntários foram avaliados quanto à função hepática, renal e intestinal. Apenas foi descrito que “vários parâmetros foram avaliados, incluindo índice de massa corporal, circunferências corporais, glicemia, hemograma completo e parâmetros bioquímicos gerais“.
         Ademais, foi relatado que os voluntários foram recrutados numa clínica para estudos nutricionais, ou seja, num local frequentemente procurado por voluntários para perda de peso corporal ou para tratamento de alguma doença.
         Como última limitação observada, os voluntários relataram não ingerir habitualmente adoçantes artificiais não calóricos previamente ao experimento, mas estes adoçantes poderiam estar intrínsecos em alimentos que estes voluntários consumiam.
         Concluindo, os adoçantes artificiais devem ser utilizados por indivíduos que necessitam de restrição calórica e/ou glicídica, como são os casos de pacientes com diabetes mellitus. Os adoçantes devem ser usados com parcimônia (pouca quantidade) e de forma a alterar o tipo de adoçante para não haver acúmulo de substâncias no organismo.

Fonte: 
Suez J, et al. Artificial sweeteners induce glucose intolerance by altering the gut microbiota. Nature 2014.
Doi:10.1038/nature13793
Disponível em: http://www.nature.com/nature/journal/vaop/ncurrent/full/nature13793.html?utm_source=dlvr.it&utm_medium=tumblr#access