terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Ovo na Dieta

Ao longo das últimas décadas, o ovo carregou a má fama de inimigo da saúde cardiovascular. Como a gema é rica em colesterol, seu consumo foi associado ao aumento no risco de infarto e derrame. Foi necessária a revisão de mais de 200 estudos, realizados a partir da década de 80, com cerca de 8.000 pessoas, para chegar à sentença de que o ovo tem mesmo substâncias potencialmente nocivas, mas privar-se dele na dieta pode ser ainda mais danoso.

Presente na gema, a colina é um nutriente vital para o bom funcionamento do cérebro. Além disso, o ovo é uma excelente fonte de triptofano, o aminoácido precursor da serotonina, a substância associada à sensação de bem-estar.

Com o ovo condenado por tanto tempo, muita gente deixou de consumir o alimento e, junto com ele, uma série de nutrientes essenciais ao organismo. Muitos deles podem ser encontrados em outros alimentos, mas a colina, em especial, é abundante, sobretudo no ovo. Uma unidade tem cerca de 130 mg de colina, enquanto uma posta de 100 gramas de salmão tem 56 mg.

Pesquisadores das universidades Harvard e da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, analisaram a dieta de 2.000 mulheres e detectaram que as americanas ingerem uma quantidade de colina inferior à considerada ideal (314 mg/dia), contra os 425 mg/dia recomendados.

A colina é especialmente importante na gravidez. "Estudos mostraram que ela é tão ou mais importante do que o ácido fólico durante a gestação", diz o professor Cícero Galli Coimbra, do departamento de neurologia da Universidade Federal de São Paulo. A colina consumida pela mãe pode influenciar o desenvolvimento cerebral do feto. Além disso, outras pesquisas mostram que a substância é essencial para a saúde do cérebro, inclusive na formação de novos neurônios. Por essa razão, o consumo de colina é indicado na prevenção das doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson.

Além de conter colina, o ovo é rico em proteínas. "Depois do leite materno, o ovo de galinha é a proteína animal mais completa e barata", diz o professor Antonio Gilberto Bertechini, da Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais. Outro benefício do ovo é a presença de antioxidantes, como a luteína, que ajuda a prevenir a degeneração macular.

O reduzido teor de gordura constitui mais uma vantagem do alimento. Uma unidade tem em média 7 g de gorduras totais, com apenas 1,5 g de gorduras saturadas (a metade do que se encontra numa fatia de queijo branco, considerado um alimento magro e saudável). "O ovo é o alimento de menor valor calórico com relação a outras fontes protéicas", diz a nutricionista Eda Maria Scur. Um ovo tem cerca de 70 calorias. Um bife de 120 g, igualmente rico em proteínas, tem o dobro desse valor. O consumo de quatro gemas por semana é suficiente para obter todos esses benefícios.

De fato, o ovo tem muito colesterol. Uma unidade contém 213 mg da substância, quase o total da ingestão diária recomendada pela Associação Americana do Coração, que é de 300 mg. O erro, no entanto, é imaginar que todo esse colesterol, depois de ingerido, tem como destino certo o entupimento das artérias. Para 70% das pessoas, o colesterol da comida não causa impacto significativo nos níveis de lipídios plasmáticos. A elas, permite-se o consumo de até um ovo por dia. Para os 30% restantes, sugere-se moderação, mas não necessariamente a eliminação total do ovo do cardápio.
Adaptado da Revista Veja (Edição 1976 - 4 de outubro de 2006)

Disponível em: http://veja.abril.com.br/041006/p_104.html