sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Proteína C-Reativa

Uma importante descoberta na área da cardiologia deverá aprimorar ainda mais os tratamentos das doenças cardiovasculares.

Uma equipe formada por pesquisadores de vários países anunciou que a Proteína C-Reativa (PCR), uma molécula produzida no fígado e usada pelo sistema imunológico, é o mais novo fator de risco confirmado para o infarto e acidente vascular cerebral (AVC).

A notícia foi um dos grandes destaques do Congresso Americano de Cardiologia, que aconteceu nos Estados Unidos. Ela é o resultado de um estudo internacional que envolveu 17,8 mil pessoas de 27 países, entre eles o Brasil.

A PCR vinha sendo estudada pelos médicos há alguns anos. Quando se apresenta em concentrações elevadas, denuncia a existência de um processo inflamatório. Isso ganhou importância quando se descobriu que o infarto é provocado pela combinação do acúmulo de placas de gordura na parede das artérias com a inflamação decorrente desse problema. "Esse núcleo de gordura se inflama e se rompe. Células de defesa do organismo se agrupam para tentar estancar, mas acabam formando o coágulo, o que causa o infarto", explica o cardiologista Andrei Spósito, presidente do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia.Porém, até hoje acreditava-se que a proteína só se expressava em quantidades preocupantes do ponto de vista cardíaco quando o processo já estava adiantado. Imaginava-se que índices elevados só aparecessem em indivíduos portadores de fatores de risco tradicionais, como obesidade e fumo. Testes para medir sua presença eram feitos mais para confirmar o problema, não para denunciá-lo.

O que o novo estudo mostrou foi que a proteína pode, sim, aparecer elevada mesmo na ausência de ameaças conhecidas. Isso significa que uma pessoa sem nenhum fator aparente pode apresentar níveis extrapolados, ou seja, esse indivíduo também está em risco, embora ninguém desconfiasse disso.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores avaliaram a redução do risco cardiovascular em pessoas que apresentavam índices preocupantes de PCR, mas que não tinham perfil para sofrer de problemas cardiovasculares. Metade foi tratada com doses diárias de rosuvastatina, um tipo de estatina. Esta categoria de remédios é indicada para reduzir o LDL e aumentar o HDL. O restante recebeu placebo.

Um ano e nove meses depois, os pesquisadores identificaram uma redução de 44% no risco de eventos como infarto e AVC e também uma redução de 20% da mortalidade entre os pacientes medicados com a estatina. Isso ocorreu porque esses medicamentos também possuem efeito antiinflamatório. "Ou seja, ficou demonstrado que a PCR é um indicador extremamente importante de que algo grave pode estar ocorrendo nos vasos sangüíneos. Mas também ficou claro que é possível reduzir eventuais prejuízos se agirmos rápido", afirma o pesquisador Jacques Genest, um dos líderes do estudo. O resultado foi considerado tão contundente que o ensaio clínico acabou interrompido antes da conclusão final.

A constatação implicará em mudança no tratamento. "É uma das mais importantes descobertas dos últimos anos. Irá repercutir nas atuais práticas clínicas", afirma Francisco Fonseca, coordenador do Setor de Lípides, Aterosclerose e Biologia Celular da Universidade Federal de São Paulo e também um dos autores da pesquisa. A primeira alteração será recomendar o teste de PCR mesmo a indivíduos que não manifestam fatores de risco mais comuns, como colesterol total elevado e sedentarismo. "Agora, diante deste resultado, este procedimento tornou-se necessário", afirma o cardiologista José Pedro da Silva, do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Revista Isto É
Edição 2037 – 19/11/2008

Disponível em: http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2037/artigo116637-1.htm