A diferença está no tipo de resposta do organismo quando entra em contato com o alimento.
Veja abaixo as principais diferenças entre a alergia e a intolerância alimentar.
ALERGIA ALIMENTAR:
Conceito: hipersensibilidade causada pela exposição a um alimento ou aditivo alimentar. Ocorre uma resposta imunológica exagerada a determinadas proteínas alimentares, sendo estas mesmas quantidades/doses toleradas quando ingeridas por pessoas saudáveis.A alergia alimentar pode ser classificada em tóxica (depende da substância ingerida) ou não tóxica (dependente da susceptibilidade individual do indivíduo).
Os principais fatores relacionados à alergia alimentar são: hereditariedade, exposição ao alimento, permeabilidade gastrointestinal e fatores ambientais (exposição ao alimento).
Os sinais e sintomas (manifestação) estão relacionados ao mecanismo imunológico envolvido. As reações podem ocorrer em qualquer idade ou na primeira exposição conhecida ao alimento.
Mesmo que a manifestação seja leve numa ocasião, nada impede que ocorram episódios mais graves em contatos posteriores com aquela comida.
Diagnóstico: dependente da história clínica associada aos exames laboratoriais
Avaliação clínica: o paciente deve relatar os sintomas percebidos ao ingerir alimentos, sendo possível, em algumas situações, relacionar o surgimento dos sintomas com a ingestão de determinado alimento. Pode ser necessária uma investigação mais minuciosa quando as reações ocorrem horas após a ingestão do alérgeno.
Na investigação, os principais aspectos a serem investigados são:
- Qual(is) o(s) alimento(s) suspeito(s)?
- Qual foi o tempo entre a ingestão do alimento e o aparecimento dos sintomas?
- Qual a menor quantidade do alimento suspeito ingerido, capaz de deflagrar as reações?
- Quais foram os sinais e sintomas?
Teste alérgico ou Teste cutâneo de hipersensibilidade imediata: após a avaliação clínica, o médico determina quais as substâncias podem ter importância no quadro clínico e as avalia individualmente.
É realizado no antebraço, colocando-se pequenas porções do alérgenos e aguardando 15 a 20 minutos. A reação positiva consiste na formação de uma pápula vermelha, semelhante a uma picada de mosquito. Esta reação indica presença de IgE específica ao alimento testado.
Exames laboratoriais: concentrações elevadas de IgE estão associadas à alergia.
O padrão-ouro para o diagnóstico é o teste de provocação oral, duplo-cego e controlado por placebo. O teste deve ser realizado em dias diferentes, sendo um para o alimento e outro para o placebo. O alimento oferecido deve ter sua cor sabor e odor mascarado.
Outros testes: quando a avaliação física e os testes laboratoriais indicam uma reação imunológica não mediada por IgE, mas sim por células, podem ser necessários testes complementares para confirmar o diagnóstico. Exemplos: biópsia gastrointestinal ou teste de hidrogênio aspirado.
Tratamento:
Exclusão dos alimentos que causam a alergia. Posteriormente, estes alimentos devem ser testados por meio das provas de desencadeamento.
Os alimentos mais comumente envolvidos na alergia alimentar são: abóbora, arroz, banana, batata, camarão, carne suína, centeio, chocolate, leite de vaca, mariscos, milho, oleaginosas (amendoim, avelã, pistache, nozes), ovos, peixes (anchova, sardinha, salmão ou o bacalhau do tipo Gadus morhua), peru, soja e trigo.
Os alimentos podem também provocar “reações cruzadas”, ou seja, alimentos diferentes podem induzir respostas alérgicas semelhantes no mesmo individuo. O paciente alérgico ao leite de vaca pode não tolerar consumir carne bovina porque ambos possuem albumina bovina na composição.
A prevenção da alergia alimentar é feita por meio de orientações dadas aos responsáveis por recém-nascidos. Estas recomendações incluem: introdução de alimentos sólidos após o sexto mês de vida; o leite de vaca puro deve ser oferecido somente após os doze meses; O ovo inteiro pode ser oferecido somente após um ano de idade. A gema pode ser oferecida antes, sendo recomendada a quantidade de 1/4 de gema de ovo cozida aos nove meses de idade e somente após quinze dias pode-se oferecer metade de uma gema. Após outros quinze dias a gema inteira, desde que o bebê não apresente nenhum sintoma; o amendoim, nozes e peixes somente devem ser incluídos na dieta após os três anos de vida.
INTOLERÂNCIA ALIMENTAR:
Conceito: alterações que podem ocorrer nos processos metabólicos de digestão e absorção de determinado componente do alimento, geralmente devido à deficiência enzimática, sem haver envolvimento da resposta imunológica neste processo.Os alimentos mais comumente envolvidos na intolerância alimentar são: banana, frutas cítricas, carnes processadas, repolho, vinho tinto, corantes alimentícios, grãos com glúten, leite e seus derivados.
O mecanismo de intolerância alimentar inclui:
•Liberação de histamina: frequentemente decorrente da exposição a chocolate, tomates, espinafres, morangos, ovos, peixe, mariscos, abacaxi e canela.
•Deficiência enzimática: a deficiência de enzimas faz com que o organismo não faça a digestão adequada do alimento. As mais comuns são: a deficiência da enzima lactase responsável pela digestão do açúcar presente no leite (lactose); a doença celíaca é causada pela intolerância ao glúten (proteína encontrada no trigo, cevada, centeio e seus derivados). O tratamento de ambas consiste de uma dieta isenta de lactase ou glúten, respectivamente.
•Reações farmacológicas: ocorrem em resposta às aminas (encontradas em alimentos que contêm nitrogênio. Exemplos: chá, café, bebidas à base de cola e chocolate).
•Efeitos irritantes: alimentos como o curry ou o glutamato monossódico podem irritar a mucosa gástrica e intestinal.
Diagnóstico: O exame Food Detective identifica 59 alimentos diferentes que podem podem estar associados à intolerância alimentar. O teste utiliza o sangue capilar e avalia os anticorpos IgG por método ELISA.
Tratamento: exclusão dos alimentos dos quais há intolerância. Algumas intolerâncias podem ser temporárias, mas, na maioria dos casos, ela acompanha o paciente pelo resto de sua vida.
Resumo da diferença entre a intolerância alimentar e alergia alimentar:
Intolerância alimentar- Resposta imunológica
- Sintomas tardios
- Pequenas quantidades podem desenvolver a resposta imunológica
- Testes cutâneos negativos
- Afeta o organismo por completo
- Ocorre em crianças e adultos
- Resposta imunológica mediada por IgG
Alergia Alimentar
- O organismo não consegue digerir ou metabolizar o alimento, geralmente devido à deficiência enzimática.
- Sintomas imediatos
- Quanto maior a quantidade maior são os sintomas
- Testes cutâneos positivos
- Pequenas quantidades de alimento são suficientes para desencadear a alergia
- Frequente em crianças
- Resposta imunológica mediada por IgE
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