terça-feira, 2 de agosto de 2016

Açúcar é viciante




Estudo australiano publicado no periódico PLOS One descreve que o açúcar é realmente viciante e que seus efeitos são semelhantes ao mecanismo responsável pelo vício em cocaína.

Segundo Shariff e colaboradores, a ingestão de açúcar eleva a síntese de dopamina para a região alvo do sistema límbico (núcleo accumbens), sendo essa uma via cerebral de recompensa onde atuam de forma semelhante drogas de uso lícito e ilícito.

No entanto, a ingestão crônica de produtos contendo excesso de açúcar ocasiona uma redução na síntese e liberação de dopamina e o individuo consome mais açúcar na tentativa de conseguir a mesma sensação de prazer decorrente das concentrações anteriores de dopamina. O mesmo mecanismo ocorre com dependentes de cocaína.

Shariff e colaboradores relatam ainda que a vareniclina (um medicamento agonista parcial do receptor nicotínico, aprovada pelo Food and Drug Administration, e que modula a secreção de dopamina na via de recompensa mesolímbica do cérebro), reduz significativamente o consumo de sacarose, especialmente em longo prazo.

Como conclusão, os autores sugerem o uso da vareniclina como uma nova estratégia de tratamento para reduzir o consumo de açúcar.

Fonte: Shariff M, et al. Neuronal nicotinic acetylcholine receptor modulators reduce sugar intake. PloS one 2016;11(3):e0150270.

Posicionamento da nutricionista Débora Lopes Souto sobre o estudo: 
O estudo é bastante relevante porque é possível observar como o açúcar pode afetar as sensações de humor e bem-estar e porque algumas pessoas relatam dificuldade para reduzir o consumo. No entanto, os autores sugerem que indivíduos “viciados” em doces e açúcar deveriam ser tratados com medicamentos, da mesma maneira que dependentes de drogas.

A redução gradual da ingestão de açúcar, de modo que o indivíduo pudesse continuar a consumi-lo em quantidades consideradas aceitáveis, é uma forma bem mais saudável de tratamento porque não ocasionaria dependência de outro medicamento.

Atualmente, alguns pesquisadores procuram formas para tratar de modo rápido seus pacientes, porém, esquecem que as mudanças nos hábitos de vida (reeducação alimentar, prática de exercícios físicos, abstinência de nicotina) são mais vantajosas em longo prazo.